Olhar como forma de Pensar
Mario Schuster

Cada vez mais vivemos num mundo onde tudo é produzido para ser visto e a maioria das informações recebidas é dada por imagens. O homem de hoje é um ser predominantemente visual. A imagem foi levada ao extremo. Há uma proliferação exacerbada de imagens, e cuja repetição não apenas as banalizam como as transforma em estereótipos, e as diferença entre a realidade e a ficção parecem ser frágeis. Tudo já foi visto, todas as realidades já foram vividas e todos os lugares visitados. Então resta a dúvida, apontada por Peixoto (1988, p.361), como “olhar quando tudo ficou indistinguível, quando tudo parece a mesma coisa”? Ainda para Peixoto (1988) deve-se procurar ver o essencial: as formas puras, desbanalizar a imagem pela reintrodução da imaginação do olhar de quem vê a imagem pela primeira vez. Olhar para dentro da imagem, descobrindo os mais diversos significados que ela possa ter. A ilusão, que nos cativa e nos fascina, se dissolve quando olhamos com o interesse da atenção, e a atenção é uma escolha como possibilidades. Para Peixoto (1996, p.4), “Mostrar como as coisas são feitas dá uma espécie de naturalidade que é o segredo e a beleza da imagem silenciosa.”
De acordo com Peixoto (1996), a transformação do mundo pela mídia em uma infinidade de imagens, dificulta a percepção do sensível das coisas, daquilo que não é visível. Diz ainda que a nossa percepção está ligada ao aumento da velocidade da vida contemporânea, da rapidez com que as imagens nos são mostradas e da rapidez com que as olhamos. O que altera a nossa percepção de espaço e tempo, por isso “O olhar contemporâneo não tem mais tempo”, ( PEIXOTO 1996, p.79).
Segundo Kandinsky (1982, apud PEDROSA,p.131) a obra de arte compõem-se de dois elementos: o interior e o exterior. O interior é a emoção da alma do artista e esta emoção tem a capacidade de despertar uma emoção idêntica no observador: E é esta experiência de ver, de acordo com Novaes (1988, p.33) “que serviria para pensar”.
Esta percepção requer um olhar de quem olha como se estivesse espiando, vigiando, onde as sutilezas percebidas são apenas insinuadas através das imagens.


Peixoto, Nelson Brissac. Paisagens Urbanas,S.Paulo:Ed.SENAC,1976
Peixoto,Nelson Brissac. Olhar do Estrangeiro, in NOVAES, Adauto.(org) O OLHAR. S. Paulo: Companhia das Letras,1988
Pedrosa, Israel. Da cor a cor inexistente. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1982

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